quarta-feira, 13 de maio de 2009

NO NATAL, ELE SE FOI...

PARTE VIII

PRÁ ONDE IR?...

Cheguei em casa ainda tempo de tentar ligar para o consultório do médico indicado pelo Dr. Paulo. Era importante começar a definir logo. Talvez assim a ansiedade pudesse diminuir e meu raciocínio voltasse ao normal. Era difícil tomar decisões com os nervos à flor da pele. Lembro de ter embargado a voz durante o relato que fiz à Neu sobre o dia que eu acabara de viver. E cada detalhe eu descrevi a ela, como se estivesse vivendo tudo novamente. Era como se a linha do tempo estivesse distorcida, afetando minha percepção. Foi necessário atender ao apelo da Neu e me sentar à mesa. Me fez um café e me serviu um lanche, que comi meio sem vontade, enquanto ela procurava me acalmar e me passar energia positiva. Acho que ela já tinha entendido que dali por diante eu acabaria liderando todo o encaminhamento do pai para o seu tratamento.
Então, mais calmo, busquei na lista telefônica o telefone do Dr. Paulo Raichert. Do outro lado, me atendeu sua secretária, muito solícita e simpática. O diálogo, no entanto, acabaria sendo frustrante. Descobri que o Dr. Raichert não atendia pelo SUS, nem pela UNIMED, nem pelo plano de saúde do Banco, nem por plano nenhum. Teria que ser tudo "particular". E não tínhamos dinheiro para isso. Há vários anos pagávamos valores absurdos por um plano regional da UNIMED, que agora não conseguiríamos utilizar, por abranger apenas a região de Erexim. E o Dr. Raichert era de Passo Fundo. Voltei à estaca zero. Voltei a ficar muito nervoso. O que fazer agora? Apelar a quem? Não haveria alguém que pudesse nos ajudar? Será que eu encontraria amigos dispostos a ajudar numa situação dessas? Ou valeria aquela máxima de que nos momentos de dificuldade os amigos somem?
De qualquer forma, vendo que eu apresentava um certo desânimo, a Neu me lembrou do Dr. Jorge Zoldan. O Dr. Jorge era nosso conhecido de Cacique Doble, médico muito conceituado, procurado por pessoas de toda a região. Era clínico geral, mas lembramos que o pai dele havia apresentado, curiosamente, o mesmo problema do pai. Anos antes, fora detectado um tumor de fígado no pai do Dr. Jorge e ele o havia encaminhado para um tratamento, partindo de uma cirurgia de hepatectomia parcial. Depois disso, o Dr. Jorge havia quase que se especializado em tratar fígados doentes, de tanto que se dedicara em acompanhar a evolução da doença em pacientes com problemas semelhantes. E eí lembramos que o seu pai havia se recuperado totalmente, vindo a falecer de outra causa, um infarto, cerca de 6 anos após a cirurgia. De repente, a perspectiva mudou. Era preciso localizar, agora, o Dr. Jorge. Liguei para um amigo e obtive o celular dele. Eram cerca de 20 horas quando o localizei. Estava em Goiás, num treinamento. E me atendeu com a cordialidade de sempre. Relatei o caso e ele me tranquilizou. "Esqueça o Dr. Raichert" , disse ele, "é um ótimo profissional, talvez o melhor da área, mas vocês não terão recursos para o tratamento com ele, com certeza. Ele costuma cobrar caro. E se vocês me dizem que não dispõe de recursos, eu tenho outra solução, igualmente boa. Durante a doença do meu pai, conheci um especialista em Porto Alegre, chama-se Dr. Sílvio Balzan. É um médico jovem, mas muito experiente, que já tem vários trabalhos publicados na área de cirurgia e tratamento hepáticos. E atende por convênios, Pelo SUS. Trabalha em vários hospitais de Porto Alegre. Com certeza vocês estarão muito bem atendidos com ele." E acrescentou: "Aguarde. Eu estou retornando no final da semana. Quero que você leve o seu pai até Ibiaçá, onde eu estou atendendo agora, para que eu possa avaliar o caso dele. Mas desde já vou contatar com o Dr. Sílvio e começar a encaminhar o assunto..."
Bingo.
O primeiro amigo não me falhara. Aliás, eu nem era tão íntimo do Dr. Jorge. Mas fui, de certa forma, um "conselheiro financeiro" dele durante os 4 anos em que residi em Cacique Doble. E ele não esquecera. Que bom. As coisas começavam a clarear. Liguei imediatamente para o pai e comuniquei tudo a ele. Aproveitei para tranquilizá-lo, contando a história do pai do Dr. Jorge. Acho que pude sentir um suspiro de alívio do outro lado da linha. Finalmente dormiríamos uma noite mais tranquila. Era o dia 25 de Novembro de 2005. Nunca mais esquecerei aquele que ainda chamo de "o mais longo dos dias".
Mas eu sabia que estávamos apenas no começo. Ah, como eu sabia disso!...

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