domingo, 5 de abril de 2009

NO NATAL, ELE SE FOI...

PARTE III

ACENTUA-SE O DRAMA...

Tentei não lembrar do assunto até que recebêssemos o resultado. Vai que não fosse maligno e um simples acompanhamento fosse o suficiente...Quem sabe não passasse de um tumor benigno que nem precisasse de tratamento...
Segunda-Feira. Dia normal. Como de praxe, saí um pouco mais cedo do trabalho, pois era dia de treino de futsal. Vesti o fardamento, peguei o carro e saí em direção ao ginásio. Tocou o celular. Era o Dr. Paulo.
- Marco, saiu o resultado da biópsia...
- Ué, mas não seria quarta...
- Sim, -interrompeu- mas já saiu. E deu "maligno".
Emudeci. Mas continuei ouvindo. Um calafrio percorreu minha espinha e gotas de suor começaram a verter da testa, de modo que em questão de segundos, enquanto o Dr. Paulo continuava, minha camisa empapou, como seu eu estivesse em pleno jogo de futebol.
-...e assim - prosseguiu ele- preciso que você traga o Bernardo amanhã à minha clínica. Precisamos fazer uma colonoscopia prá descartar qualquer possibilidade de tumor intestinal, porque os tumores de fígado muitas vezes são metástases da moléstia no intestino...
- Certo. Aí estaremos.
Ainda ouvi os últimos detalhes, horários. Não tinha mais condições prá jogar futebol. Dei meia-volta. Confesso que não tenho noção do que possa ter visto no trajeto de volta prá casa. Eu simplesmente flutuava. O cérebro não raciocinava, parecia estar vazio, inerte.
Subi a escada que levava ao apartamento. A Neu abriu a porta e imediatamente percebeu o estado de torpor em que eu me encontrava. Mas sua voz desencadeou o retorno da consciência.
Lembro que mal ela pronunciu um "o que houve?" e eu só consegui dizer:
- Neu, é o fim do pai!
Deitei a cabeça no seu ombro e desandei a chorar. Copiosamente. Há anos, décadas, eu não chorava convulsivamente daquele jeito. Para mim, estava dada a sentença de morte para ele. Eu não conseguia acreditar. Ele parecia mais saudável do que eu. Tinha 63 anos. Sessenta e três. Um "jovem sexagenário", como ele sempre brincava. O meu maior amigo. Aquele com quem eu primeiro dividia todas as minhas angústias e minhas conquistas. Embora gerente de Banco e com uma experiência muito maior na área financeira, cada vez que eu trocava de carro ou fazia qualquer pequeno negócio, fazia questão de pedir a sua opinião. E agora eu ouvia do médico a notícia de que o estava perdendo. Que golpe. Foi muito duro. Ainda mais por ser o primeiro ente querido mais próximo (depois dos meus avós) a ter um diagnóstico fatal como esse.
Mas a Neu me deixou chorar em seu ombro durante uns 5 minutos e depois, calmamente, começou a falar. Aos poucos o raciocínio foi voltando e fagulhas de esperança começaram a se formar. Como é o cérebro da gente. Num instante eu estava arrasado e de repente começava a pensar diferente, nas possibilidades de tratamento, que podia não ser o fim, que talvez houvesse uma saída...
Então, era hora de ligar prá ele.
Dissimuladamente repassei as instruções do Dr. Paulo. Ele fez alguns questionamentos, mas eu tive habilidade para não assustá-lo. Seria um exame de rotina, relacionado à biópsia, cujo resultado ainda não havia saído, etc. e tal... Ele teria que tomar um potentíssimo laxante, não comer nada no jantar...o intestino teria que estar "limpo" para o desagradável exame de colonoscopia. Conversaríamos durante a viagem.
Até então, só eu sabia da gravidade da doença dele. Havia ligado para a Mili e para o Digo e conversado rapidamente com o Nando. Sabiam do exame que apontara um tumor, mas não lhes havia passado o resultado da biópsia. A dúvida me assaltava. Quem deveria ser informado? A mãe? Todos os irmãos? Ele próprio? Ou devia segurar tudo comigo por mais algum tempo? Mas não, decidi que sofrer sozinho seria mais difícil. E acabei ligando prá todos eles e contando toda a verdade. A Mili chorou muito ao telefone. O Digo pareceu receber a notícia com mais tranquilidade, mas fez um monte de perguntas. O mesmo fez o Nando naquele momento. E a mãe? O que dizer a ela? Pensei no choque que seria ouvir essa notícia. Pensei na reação que teria, na sua pressão alta, no seu comportamento normalmente nervoso...Eu tinha a noite prá pensar. No dia seguinte iríamos novamente a Erexim. Seria mais uma jornada.

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