PARTE LIX
A INTERNAÇÃO DEFINITIVA
Na noite de Domingo voltei a ligar para eles. A Jussane atendeu o telefone e perguntei como o pai estava. “Não muito bem”, foi o que ela disse, “ele continua se queixando do estômago e de gosto de sangue na boca...” Pedi para falar com ele. Quis ouvir dele mesmo como estava. “Ainda não melhorei muito bem”, ele falou. “Nem consegui comer direito; parece que tem um peso no estômago...” A mesma queixa. Sinal de que o seu esôfago fora bastante judiado na última endoscopia. De qualquer forma, lembrei-lhe que no dia seguinte eu estaria indo a Passo Fundo, que ficasse tranqüilo, que logo tudo iria se acomodar.E fui dormir, extremamente preocupado. No dia seguinte eu teria a última reunião mensal do ano na Superintendência e precisava ir.
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Tive que acordar cedo. A reunião era às 9 horas da manhã, mas a estrada estava horrível e havia máquinas tentando recuperá-la, de modo que em alguns trechos o trânsito era parado por alguns minutos, atrasando a viagem. Senti vontade de ligar prá saber como o pai estava, mas imaginei que estivesse descansando. Houvesse algum problema mais e teriam me ligado. Assim, segui viagem. Talvez qualquer outro gerente tivesse ligado para a chefia e pedido dispensa da reunião, alegando que seu pai não estava bem. Seria absolutamente normal. Mas não eu, o grande “caxias”. Eu tinha que ir. A responsabilidade do trabalho acima de tudo... Apesar de que até aquele momento eu não tinha conhecimento do que se passara naquela madrugada de Segunda-Feira.
Quando eu me aproximava do trevo de Coxilha, o celular tocou. Era da farmácia. Atendi e pedi que ficasse na linha enquanto eu contornava o trevo. Estacionei na rua lateral, que leva ao posto de gasolina da rodovia. E ouvi a voz da Jussane. “Marco, teu pai não está nada bem” – disse ela- “Já chamamos uma ambulância e estamos levando ele para Erexim.” Perguntei o que havia acontecido. “Ele passou a noite toda com sangramento. Já empapamos várias toalhas com sangue que sai pela boca. Segundo a tua mãe, ele passou assim a madrugada toda. De manhã falamos com o Dr. Olando e ele disse que temos que levar ele urgente para Erexim. A ambulância está encostando...tenho que desligar...” “Ok, respondi – me mantenha informado. Só vou para a reunião e depois vou direto de Passo Fundo para Erexim...”
Que coisa!
Nem assim a minha ficha caiu. Fiquei me perguntando porque não tinham me ligado de madrugada. Depois a mãe me falou por quê: não quis me acordar porque sabia que eu ia levantar cedo para viajar (vê se pode). Mas, como eu disse, nem assim “caiu a ficha”. Eu continuei no rumo de Passo Fundo, determinado a participar daquela reunião, que devia ser importante, claro, mas será que era mais importante do que o meu pai? Que coisa! Até hoje não me perdôo por essa atitude, embora o restante da viagem me fezdirigir de forma automática, já que meu cérebro estava focado no problema do pai.
Foi então que veio o fatídico telefonema do Nando:
- Marco, a coisa tá complicada. A Jussane está indo junto, na ambulância. O quadro é extremamente grave. O pai está com uma hemorragia digestiva violenta. Já perdeu muito sangue e continua sangrando abundantemente. O Dr. Olando disse que não sabe se ele chegará vivo em Erexim...
Estacionei o carro naquela estrada paralela que tem um pouco antes do trevo da entrada de Passo Fundo, recostei-me no assento e só então raciocinei melhor. O que eu estava fazendo que não estava do lado do meu pai nessa situação de gravidade? Será que o Banco era mais importante que o pai? Será que uma reunião, por mais importante que pudesse ser, ainda assim tinha mais valor do que o meu pai? E (enfim) tomei a decisão: liguei para a Superintendência do Banco e informei que não compareceria porque meu pai estava passando mal e eu precisava acompanhar. E fiquei com um certo remorso quando ouvi da Sureg que “não tinha problema”. “Vai lá e fica com teu pai”, me disse a Mariluz, colega da Superintendência. Aí, sim, “caiu a ficha”. Eu havia subestimado a gravidade do que acontecia com o pai e, por isso mesmo, colocado naquele momento o Banco acima dele. Por um momento, pedi a Deus que ele sobrevivesse àquela situação, porque eu não me perdoaria...
Dei meia-volta e rumei para Erexim. Sabia onde encontrá-los. O Hospital de Caridade vinha sendo quase a segunda casa do pai nos últimos 3 anos...
sábado, 1 de outubro de 2011
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