sábado, 19 de fevereiro de 2011

NO NATAL, ELE SE FOI...

PARTE     L




O MELHOR PERÍODO






Controlado o problema do excesso de líquido abdominal e a infiltração no pulmão, muito à base de uma cavalar dose de diuréticos, a doença do pai entraria numa fase de estabilização que nos deixava muito esperançosos. O ano de 2007 inteiro seria de boas notícias. Ele havia recuperado um pouco do vigor físico, ganhara alguns quilos e o fígado parecia, de fato, estar compensando muito bem as agressões do tratamento. A insuficiência hepática persistia, claro, já que o órgão conseguira regenerar-se a um tamanho aproximado de 70% do normal, mas dava para mantê-lo vivo e com as funções relativamente bem preservadas. Ao longo do ano, ele e a mãe fizeram várias viagens a Bento Gonçalves, onde ficavam por 15 a 20 dias na casa da Mili, recebendo todos os “paparicos” possíveis, o que lhe fazia muito bem. Quase sempre no retorno dessas viagens marcávamos nova consulta em Erechim e realizava-se os procedimentos de controle. Quando em Paim, o pai tentava seguir um pouco de sua antiga rotina. Debilitado ou não, mantinha-se no balcão da farmácia e desempenhava ainda aquela velha função de consultor para os pacientes, acostumados a ouvir uma opinião sua antes de se dirigirem ao médico, como ocorrera ao longo dos 50 anos de farmácia. Não dispensava a missa e embora sua voz não tivesse mais o vigor de antes, tentava acompanhar os cantos do coral de que fizera parte até 2005, mesmo que de sua boca nada mais saísse do que roucos balbucios. As festas nas capelas, de que tanto gostava, não tinham mais o colorido de antes. Impedido de sequer tocar em uma gota de álcool, era uma tortura ver os amigos desgustarem generosos nacos de vinho tinto e sentir o aroma da uva desprendendo-se dos copos. Os almoços passaram a ser regados apenas com refrigerante. Ora, se para ele o melhor da festa era a degustação da bebida dos deuses junto aos amigos, que graça haveria agora nas festas de colônia de Paim Filho? E assim esse prazer foi deixado de lado. Compensou-se com reuniões de família mais freqüentes. Os churrascos de domingo na casa do pai se tornaram obrigação numa freqüência muito maior do que antes. Se até 2005 dividíamos os almoços no meu sogro e no pai a cada 15 dias, agora a proporção passara de 3 para 1. E mesmo nesse “1” em que almoçávamos em Bela Vista, dávamos um jeito de passar por Paim para ver como ele estava.

Mas 2007 foi um ano bom. Nos fez esquecer um pouco do drama de sua doença e nos fez acreditar ainda mais numa sobrevida maior.

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