MAIS FRUSTRAÇÃO...
O tempo apagou alguns detalhes e não estou bem lembrado sobre quem permaneceu por primeiro no albergue com a mãe naqueles dias. O fato é que escalonamos as nossas férias, cada um em sua empresa, de modo que sempre pudesse ficar alguém com ela. Acho que o primeiro a ficar foi o Rodrigo. O fato é que não queríamos deixar ela sozinha em Porto Alegre. A gente se virava, tinha telefone celular, vigor para eventuais caminhadas mais longas. Mas e ela já não era assim tão jovem. Além disso, poderia ser necessário tomar alguma decisão ou outra durante o período da baixa no hospital e com certeza ela não o faria sozinha. Mas a verdade é que o que nos fez tomarmos a decisão de organizar as férias de todos desta maneira foi a percepção de que nossa estada na capital seria mais longa do que o programado. Inicialmente, imaginamos que a cirurgia iria ocorrer no dia marcado, que haveria alguns dias de recuperação e que no máximo em uns 15 dias o pai estaria de volta para continuar o tratamento, talvez, no hospital de Paim Filho ou mesmo em casa. O adiamento foi mesmo um balde de água gelada nesse planejamento. E o pior estava por vir.
Foi marcada uma nova data. Seria na quinta-feira seguinte.
Novamente nos mobilizamos e viajamos para Porto Alegre. Novamente reuniu-se a equipe, só que desta vez sem o Dr. Jorge, que não pode comparecer. Repetiu-se toda a preparação. Chegamos cedo ao hospital, reencontramos o pai, conversamos, falamos com os companheiros de quarto dele...mas tudo se repetiu. Outra vez a notícia de que não seria realizada a cirurgia por falta de UTI. Imagine-se a frustração de todos. Agora já eram mais de 10 dias de internação. 10 dias de albergue para a mãe. 10 dias de cama de hospital para um paciente psicologicamente abalado pela descoberta de uma gravíssima enfermidade. E ante à perspectiva de novo frustrada de uma cirurgia que lhe pudesse devolver a esperança de vida. Era um sentimento indescritível de decepção para todos. Nitidamente o pai sofria muito com isso, mas resignava-se, até por saber que não havia outra alternativa senão aguardar. Na cama ao lado, o paciente Roberto passava por situação semelhante. Ambos eram preparados para cirurgias que não aconteciam... por falta de UTI. Mas que negócio era esse de “falta de UTI”? Não conseguíamos entender como um hospital do porte da Santa Casa podia ter uma deficiência como essa. Éramos acostumados com os atendimentos no interior, onde sobram leitos e UTI’s. Demorávamos a compreender que a capital era onde desembocavam pacientes do Estado inteiro e até de fora dele. E mesmo que a Santa Casa, por ser um hospital de referência, padecia com a falta de vagas para atender a uma demanda cada vez maior. Abalados como estávamos, nossas cabeças começavam a se deixar levar por idéias mirabolantes e conjecturas irracionais, do tipo “ será que não estão passando outros pacientes na frente dele?” “Será que não está havendo ‘direcionamento’ de atendimento para pacientes com melhores condições financeiras?”
O fato é que a cirurgia não sairia de novo. E agora, quando sairia? Para piorar, o Dr. Sílvio nos dá a notícia de que teria que se ausentar por no mínimo uma semana, pois teria que ministrar aulas em uma faculdade de São Paulo. Pôxa, mas então agora a cirurgia, se (e quando) saísse, não contaria com ele, o especialista em cirurgias hepáticas?
- Olha, Marco – me disse ele – o cirurgião que atende esta ala é um profissional experiente e pode realizar tranquilamente a cirurgia. Aliás, é um ótimo cirurgião...
- Mas, Dr Sílvio, - interrompi – não se trata disso, mas sim de participar da cirurgia alguém que é especialista, como o senhor. Não ficaremos seguros sem a sua presença. O Dr. Jorge já não estará presente...
- Entendo, mas infelizmente meu compromisso é inadiável.
Foi marcada uma nova data. Seria na quinta-feira seguinte.
Novamente nos mobilizamos e viajamos para Porto Alegre. Novamente reuniu-se a equipe, só que desta vez sem o Dr. Jorge, que não pode comparecer. Repetiu-se toda a preparação. Chegamos cedo ao hospital, reencontramos o pai, conversamos, falamos com os companheiros de quarto dele...mas tudo se repetiu. Outra vez a notícia de que não seria realizada a cirurgia por falta de UTI. Imagine-se a frustração de todos. Agora já eram mais de 10 dias de internação. 10 dias de albergue para a mãe. 10 dias de cama de hospital para um paciente psicologicamente abalado pela descoberta de uma gravíssima enfermidade. E ante à perspectiva de novo frustrada de uma cirurgia que lhe pudesse devolver a esperança de vida. Era um sentimento indescritível de decepção para todos. Nitidamente o pai sofria muito com isso, mas resignava-se, até por saber que não havia outra alternativa senão aguardar. Na cama ao lado, o paciente Roberto passava por situação semelhante. Ambos eram preparados para cirurgias que não aconteciam... por falta de UTI. Mas que negócio era esse de “falta de UTI”? Não conseguíamos entender como um hospital do porte da Santa Casa podia ter uma deficiência como essa. Éramos acostumados com os atendimentos no interior, onde sobram leitos e UTI’s. Demorávamos a compreender que a capital era onde desembocavam pacientes do Estado inteiro e até de fora dele. E mesmo que a Santa Casa, por ser um hospital de referência, padecia com a falta de vagas para atender a uma demanda cada vez maior. Abalados como estávamos, nossas cabeças começavam a se deixar levar por idéias mirabolantes e conjecturas irracionais, do tipo “ será que não estão passando outros pacientes na frente dele?” “Será que não está havendo ‘direcionamento’ de atendimento para pacientes com melhores condições financeiras?”
O fato é que a cirurgia não sairia de novo. E agora, quando sairia? Para piorar, o Dr. Sílvio nos dá a notícia de que teria que se ausentar por no mínimo uma semana, pois teria que ministrar aulas em uma faculdade de São Paulo. Pôxa, mas então agora a cirurgia, se (e quando) saísse, não contaria com ele, o especialista em cirurgias hepáticas?
- Olha, Marco – me disse ele – o cirurgião que atende esta ala é um profissional experiente e pode realizar tranquilamente a cirurgia. Aliás, é um ótimo cirurgião...
- Mas, Dr Sílvio, - interrompi – não se trata disso, mas sim de participar da cirurgia alguém que é especialista, como o senhor. Não ficaremos seguros sem a sua presença. O Dr. Jorge já não estará presente...
- Entendo, mas infelizmente meu compromisso é inadiável.
Acabei entendendo e passei a informação para a família. Agora surgia um outro dilema: torcer para que a cirurgia saísse logo ou torcer para que não saísse, dando tempo para que o Dr. Sílvio retornasse da viagem?
A segunda opção nos parecia a mais sensata, mas havia o outro lado, o emocional. O pai começava a mostrar impaciência, dizendo-se cansado. Imagine-se uma situação dessas. Ficar deitado num leito de hospital, entre pessoas estranhas, vários e vários dias, mirando a janela desde o leito, sendo medicado periodicamente, comendo só “comida de hospital” e revendo os familiares apenas por alguns momentos duas vezes por dia... Devia ser torturante. E só por causa disso também não nos queixávamos dos transtornos que os adiamentos da cirurgia causavam a todos. Era complicado e sofrido para todos nós também. As viagens eram estafantes naquele mormacento Janeiro de 2006. E não é preciso esforço para compreender que quem passava os dias num albergue, por mais funcional que ele fosse, não estava agraciado com nenhuma vida de rei. Sem falar nos problemas que enfrentávamos em nossas empresas para conseguir “dias de folga” e nos deslocarmos à capital para acompanhar uma cirurgia que não saía.
A vida da família havia mudado de repente.
A segunda opção nos parecia a mais sensata, mas havia o outro lado, o emocional. O pai começava a mostrar impaciência, dizendo-se cansado. Imagine-se uma situação dessas. Ficar deitado num leito de hospital, entre pessoas estranhas, vários e vários dias, mirando a janela desde o leito, sendo medicado periodicamente, comendo só “comida de hospital” e revendo os familiares apenas por alguns momentos duas vezes por dia... Devia ser torturante. E só por causa disso também não nos queixávamos dos transtornos que os adiamentos da cirurgia causavam a todos. Era complicado e sofrido para todos nós também. As viagens eram estafantes naquele mormacento Janeiro de 2006. E não é preciso esforço para compreender que quem passava os dias num albergue, por mais funcional que ele fosse, não estava agraciado com nenhuma vida de rei. Sem falar nos problemas que enfrentávamos em nossas empresas para conseguir “dias de folga” e nos deslocarmos à capital para acompanhar uma cirurgia que não saía.
A vida da família havia mudado de repente.
Vivíamos dias muito atribulados e angustiantes.
O horizonte que enxergávamos não era reluzente...