DEIXANDO A CTI
De certa forma, parecia que havíamos nos acostumado com a rotina e aos poucos começava a parecer distante o dia em que o pai sairia daquele hospital e retornaria para perto de nós. A sua lenta recuperação nos dava esperança, certeza até, de que isso acabaria acontecendo. Mas a sensação era estranha. Era como se o ato de assinar o documento de alta por parte dos médicos fosse algo proibitivo naquele momento. Quando retornei, lembro que passei toda a viagem de ônibus imaginando as mais diversas situações. Entre elas a possibilidade de ele nunca mais deixar o hospital. Seria trágico perdê-lo sem poder trazê-lo de volta para seus amigos, para a cidade que tanto amava, considerando a forma abrupta como tudo acontecera. E isso me angustiava muito. Lembro que num daqueles dias em que a doença lhe arrebatava a sanidade, encontrei-o chorando pela manhã, na primeira visita. Passei a mão em sua testa e perguntei sobre o que estaria acontecendo. “Estou com saudades dos meus amigos” – respondeu ele, enquanto as lágrimas desciam pelo seu rosto e já empapavam parte do lençol, fazendo crer que aquele pranto se estendera durante vários minutos. Então lhe sorri e disse que estava próximo o momento em que deixaria o hospital e retornaria para Paim Filho. Ele até parou por alguns momentos e vi seus olhos brilharem, para logo em seguida voltar a chorar. “Eu queria voltar prá poder pedir desculpas a eles...” – disse em tom choroso. Fiquei surpreso. “Desculpas? Por que pedir desculpas aos teus amigos, pai?” Ele me olhou firme nos olhos: “muitas vezes eu os tratei mal...” Ora, meu pai ter “tratado mal” aos amigos me soava totalmente absurdo. Ele não era capaz de tratar mal a uma formiga. Mas logo entendi que se tratava de saudade mesmo. Havia se quebrado uma rotina de décadas de convivência numa pequena comunidade do interior. E quase 50 dias num leito de hospital, afastado de tudo o que mais lhe dava prazer devia ser torturante, mesmo para uma mente afetada pela medicação e pela doença.
******
No início da semana, já de volta ao trabalho, recebi uma ligação da Mili, num final de tarde.
- Marco, o pai foi transferido para um quarto.
- Saiu da CTI? Não acredito! – respondi com estupefação.
- Pode acreditar. Os médicos estiveram aqui pela manhã, analisaram os exames e chegaram à conclusão de que a melhora dos últimos dias é consistente. Os índices avaliados estão subindo gradativamente e se mantendo. Ele não tem mais infecção e o fígado parece que já dá conta de manter o organismo. Tiraram a sonda nasal, ele já se alimenta sozinho e não rejeita mais a alimentação.
Era a melhor notícia que eu recebia desde a descoberta da doença do pai. E naquele instante passei a acreditar mais firmemente que o veríamos em breve de volta para o seu meio, para o aconchego de sua casa, e finalmente para seus amigos.
A Mili ainda completou, : “Acho que vou ser eu que vou levar o pai para casa...”
Não me contive. Liguei para os meus irmãos, para meus tios e primos, para os colegas de trabalho. E todos ficaram muito contentes com a notícia. Depois de tudo o que acontecera, não deixava de ser um grande alento a possibilidade de rever o Bernardo. Estivesse ele do jeito que estivesse. Saudável ou doente. Importava mesmo era tê-lo de volta. A comunidade inteira ansiava por isso.
******
No início da semana, já de volta ao trabalho, recebi uma ligação da Mili, num final de tarde.
- Marco, o pai foi transferido para um quarto.
- Saiu da CTI? Não acredito! – respondi com estupefação.
- Pode acreditar. Os médicos estiveram aqui pela manhã, analisaram os exames e chegaram à conclusão de que a melhora dos últimos dias é consistente. Os índices avaliados estão subindo gradativamente e se mantendo. Ele não tem mais infecção e o fígado parece que já dá conta de manter o organismo. Tiraram a sonda nasal, ele já se alimenta sozinho e não rejeita mais a alimentação.
Era a melhor notícia que eu recebia desde a descoberta da doença do pai. E naquele instante passei a acreditar mais firmemente que o veríamos em breve de volta para o seu meio, para o aconchego de sua casa, e finalmente para seus amigos.
A Mili ainda completou, : “Acho que vou ser eu que vou levar o pai para casa...”
Não me contive. Liguei para os meus irmãos, para meus tios e primos, para os colegas de trabalho. E todos ficaram muito contentes com a notícia. Depois de tudo o que acontecera, não deixava de ser um grande alento a possibilidade de rever o Bernardo. Estivesse ele do jeito que estivesse. Saudável ou doente. Importava mesmo era tê-lo de volta. A comunidade inteira ansiava por isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário