PARTE XXXVI
O RETORNO ESTAVA PRÓXIMO
As notícias começavam a melhorar. Cada telefonema da Mili nos dava mais certeza de que o pai poderia ser liberado, recebendo alta. Os exames de sangue apresentavam melhoras constantes, mesmo que em índices ainda muito baixos. Mas acredito que nem os próprios médicos tinham noção de como poderia evoluir o caso do pai. O fato é que naquele momento podia não fazer mais muita diferença mantê-lo no hospital ou deixá-lo retornar e seguir o tratamento em casa. A alimentação já era normal, não havia mais infecção. A etapa agora era de observar e torcer para que o fígado, mesmo cirrótico, continuasse a sua regeneração até o ponto de mantê-lo com o mínimo possível de insuficiência hepática. Com um pouco de sorte, caso o fígado conseguisse uma regeneração completa, talvez ele nem tivesse insuficiência, o que seria fantástico em termos clínicos, proporcionando-lhe uma sobrevida muito longa. Era o nosso sonho. Mas não era a expectativa dos médicos, certamente, pois as estatísticas conspiravam contra um prognóstico tão positivo. Mesmo assim acreditamos. O tempo todo. E cada boa notícia nos enchia de mais e mais esperança.
O RETORNO ESTAVA PRÓXIMO
As notícias começavam a melhorar. Cada telefonema da Mili nos dava mais certeza de que o pai poderia ser liberado, recebendo alta. Os exames de sangue apresentavam melhoras constantes, mesmo que em índices ainda muito baixos. Mas acredito que nem os próprios médicos tinham noção de como poderia evoluir o caso do pai. O fato é que naquele momento podia não fazer mais muita diferença mantê-lo no hospital ou deixá-lo retornar e seguir o tratamento em casa. A alimentação já era normal, não havia mais infecção. A etapa agora era de observar e torcer para que o fígado, mesmo cirrótico, continuasse a sua regeneração até o ponto de mantê-lo com o mínimo possível de insuficiência hepática. Com um pouco de sorte, caso o fígado conseguisse uma regeneração completa, talvez ele nem tivesse insuficiência, o que seria fantástico em termos clínicos, proporcionando-lhe uma sobrevida muito longa. Era o nosso sonho. Mas não era a expectativa dos médicos, certamente, pois as estatísticas conspiravam contra um prognóstico tão positivo. Mesmo assim acreditamos. O tempo todo. E cada boa notícia nos enchia de mais e mais esperança.
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E assim, enquanto seguíamos nossa rotina, ficávamos conectados com a Mili, acompanhando com expectativa aquele bom momento. Eu ligava duas, três vezes por dia, em busca de notícias, que repassava a familiares e amigos, principalmente de Paim Filho, onde continuavam as orações pela recuperação do pai.
A partir do momento em que percebemos haver possibilidade real de alta para ele, passamos a fazer uma certa pressão sobre os médicos do HCPA, pedindo que o liberassem o mais rápido possível. Argumentávamos que sua recuperação poderia seguir normalmente em casa, que junto dos familiares e amigos ele poderia se sentir melhor e ter uma recuperação mais rápida e até dizíamos que, caso “tudo desse errado” ele poderia morrer mais feliz nessas condições... Além disso, tentávamos fazê-los compreender a nossa dificuldade em nos mantermos em Porto Alegre, falávamos dos custos, das viagens caras, enfim, usamos todos os argumentos que estavam a nosso alcance para tentar trazer o pai para casa. Acreditávamos, de fato, que isso faria muito bem a ele. E também estávamos conscientes de que se a sua vida, afinal, tivesse sido encurtada, seria extremamente importante que ele estivesse ao lado de amigos e familiares em seus momentos finais. Tudo isso passava pela nossa cabeça.
Mas deve ter sido decisivo para a liberação dele o fato de informarmos que ele poderia seguir sendo acompanhado em Erexim, no Hospital de Caridade, pelo Dr. Paulo Cavazzola, o gastroenterologista que havia diagnosticado a sua doença e que estaria a pouco mais de 70 Km de Paim Filho, sem falar que ali, em Erexim, poderíamos aproveitar o plano de saúde da UNIMED, o que não fora possível em Porto Alegre, por ser um plano regional.
Assim, no início de Março de 2006, após quase 60 dias de internação, o pai recebeu alta e retornou. De carona com com o Ique, que era Prefeito de Paim Filho e estava em viagem em Porto Alegre. Imagine-se a alegria da família e dos amigos. Foi emocionante receber aquele telefonema e ouvir a confirmação da Mili de que o pai estaria retornando naquele dia e chegaria no final da tarde.
Tente se colocar no meu lugar e sentir a sensação de “dever cumprido” que transpassou minha alma naquele momento! Era uma indescritível sensação de vitória, que coroava todo o esforço, todo o sofrimento, toda a dedicação e todo o stress vivido por alguém que assumira toda a responsabilidade de buscar a cura ou a sobrevida do próprio pai e que havia enfrentado situações as mais diversas no transcurso de quase 5 meses desde a descoberta da doença – desde a angústia pela espera de um leito na Santa Casa, passando pelo desespero da iminência da falta de recursos financeiros que levaria à falência total da família, até o ceticismo de algumas pessoas que imaginavam não termos feito a escolha correta no encaminhamento do caso... Tudo agora se apagava e era recoberto pelo manto da alegria e da satisfação de perceber que as coisas, afinal, haviam dado certo. E mais uma vez desliguei o telefone e desandei a chorar copiosamente nos ombros da Neu. Desta vez, porém, de felicidade.