DIFÍCIL DECISÃO!...
E assim os dias foram passando, com a enfadonha repetição de expectativa seguida de frustração. E isso foi deixando o pai cada vez mais desanimado. No albergue, fazíamos um revezamento para acompanhar a mãe nos finais de semana. Aquele de nós que estava em férias permanecia durante a semana e retornava para sua cidade no sábado, enquanto outro fazia o contrário. Às vezes, no Sábado, nos encontrávamos todos em Porto Alegre. Era quando as visitas deviam agradar mais ao pai, que via todos à sua volta e sentia mais profundamente o carinho da família. Lembro que um dia, próximo do horário de almoço dele, perguntamos a uma enfermeira se havia alguma restrição alimentar durante essa baixa no hospital. Como a resposta foi negativa, descemos e procuramos uma lanchonete próxima ao hospital, onde lhe compramos um pastel (que ele adorava) e bananas, outra de suas preferências. Imagine-se a satisfação do homem, que vinha ingerindo só “comida de hospital” há mais de 15 dias...
Na semana seguinte, o Dr. Sílvio retornou de São Paulo. E não mostrou-se surpreso pela não realização da cirurgia até então. Parecia conhecer os meandros do funcionamento interno da Santa Casa, pela sua experiência. Embora jamais tenha feito qualquer comentário a respeito(até por questões éticas), ficou evidente que já discordava do longo atraso e divergia dos critérios que aquela ala do hospital havia definido na escolha das prioridades. Assim, passamos a falar mais em detalhes de uma possível cirurgia fora do SUS (particular). Aguardaríamos ainda até o final daquela semana. Se não houvesse definição, pensaríamos seriamente no assunto.
O problema é que o pai não aceitava. Embora todo o seu sofrimento e desconforto naquele leito, argumentava sempre que não tínhamos condições financeiras para fazer a cirurgia se não fosse daquela maneira e que agüentaria firme o quanto fosse necessário. Mas o fato é que nós não agüentávamos mais vê-lo naquela situação. Ademais, mesmo que os médicos insistissem que o crescimento daquele tipo de tumor era lento, pairavam dúvidas quanto a isso. E preocupava saber que demorávamos tanto a iniciar o tratamento de uma doença tão grave. E as pessoas “de fora” não entendíam o motivo da demora. A população de Paim Filho e os familiares já acompanhavam com mais detalhes a situação e muitos questionavam a nossa estratégia de levar o pai para a Capital, achando que talvez houvessem outros caminhos mais fáceis, que havíamos errado na decisão, que talvez devêssemos ter recorrido à Secretaria de Saúde Municipal, enfim, toda sorte de comentários, que me deixavam ainda mais nervoso, porque eu sabia que as decisões todas tinham sido tomadas por mim, e sobre mim recaía, portanto, toda a responsabilidade. E eu sabia que se algo desse errado eu seria muito cobrado. Mas eu não sou de desistir. Quem me conhece sabe que quando assumo alguma responsabilidade não sossego até atingir o objetivo, nem que para isso tenha que mudar várias vezes de estratégia. E era o caso naquele momento.
Na terça-feira nem se cogitou sobre a realização da cirurgia, mas na sexta-feira a informação que chegou era de que finalmente sairia. Todos atentos, aguardamos com ansiedade que o Digo nos ligasse confirmando que o pai havia sido levado para a sala de cirurgia. Por volta de 9 horas da manhã, já no Banco, como não recebesse qualquer retorno, decidi ligar. E mais uma vez tudo se repetiu. O pai havia recebido toda a medicação, as enfermeiras o haviam preparado psicologicamente, os familiares foram informados dos detalhes...e logo em seguida o anúncio de que houvera outro adiamento.
Foi a gota d’água.
Pedi para passar o telefone para o pai.
- Pai! Como você está?
- Estou simplesmente arrasado, filho – respondeu com voz chorosa...
Foi aí que eu fui tomado de um sentimento de indignação tal, que não mais importava ouvir dele que não aceitava ou que não queria... Naquele momento eu decidi que, custasse o que custasse, a cirurgia seria feita em outro hospital, com a participação do Dr. Sílvio, particular.
- Agora chega, pai! – falei mais alto ao telefone – chega de sofrimento! Estou viajando ao meio-dia para Porto Alegre e vamos tirar você amanhã desse hospital. Chega de SUS! Vamos fazer essa cirurgia de qualquer jeito. O Dr. Sílvio já me passou um orçamento e vamos dar um jeito...eu tenho algumas economias e se for preciso consigo dinheiro emprestado com a minha cunhada...mas chega de passar por isso...
Eu esperava ouvir uma negativa, mas pela primeira vez ouvi algo diferente de parte dele:
- Façam o que vocês acharem melhor, filho. Eu não estou agüentando mais essa situação.
Aí deu pra ter uma noção do seu esgotamento físico e psicológico.
Liguei para o Nando, que agora ia tirar férias também, liguei para a Mili, e combinamos de nos encontrar no albergue no dia seguinte. Iríamos até a Santa Casa, assinaríamos o que fosse necessário, e tiraríamos o pai daquele leito.
Liguei então para o Dr. Sílvio e informei da nossa decisão. Pedi que verificasse junto ao seu hospital todos os detalhes e desse um retorno quando possível.
Cerca de uma hora depois ele me ligou:
- Marco, tudo certo. Cirurgia marcada para Segunda-Feira, dia 23, no Moinhos de Vento.
Iria me passar outros detalhes no dia seguinte, quando chegássemos à capital. Definitivo, apenas que o pai deixaria a Santa Casa naquele Sábado. De qualquer maneira. Decisão tomada!
Na semana seguinte, o Dr. Sílvio retornou de São Paulo. E não mostrou-se surpreso pela não realização da cirurgia até então. Parecia conhecer os meandros do funcionamento interno da Santa Casa, pela sua experiência. Embora jamais tenha feito qualquer comentário a respeito(até por questões éticas), ficou evidente que já discordava do longo atraso e divergia dos critérios que aquela ala do hospital havia definido na escolha das prioridades. Assim, passamos a falar mais em detalhes de uma possível cirurgia fora do SUS (particular). Aguardaríamos ainda até o final daquela semana. Se não houvesse definição, pensaríamos seriamente no assunto.
O problema é que o pai não aceitava. Embora todo o seu sofrimento e desconforto naquele leito, argumentava sempre que não tínhamos condições financeiras para fazer a cirurgia se não fosse daquela maneira e que agüentaria firme o quanto fosse necessário. Mas o fato é que nós não agüentávamos mais vê-lo naquela situação. Ademais, mesmo que os médicos insistissem que o crescimento daquele tipo de tumor era lento, pairavam dúvidas quanto a isso. E preocupava saber que demorávamos tanto a iniciar o tratamento de uma doença tão grave. E as pessoas “de fora” não entendíam o motivo da demora. A população de Paim Filho e os familiares já acompanhavam com mais detalhes a situação e muitos questionavam a nossa estratégia de levar o pai para a Capital, achando que talvez houvessem outros caminhos mais fáceis, que havíamos errado na decisão, que talvez devêssemos ter recorrido à Secretaria de Saúde Municipal, enfim, toda sorte de comentários, que me deixavam ainda mais nervoso, porque eu sabia que as decisões todas tinham sido tomadas por mim, e sobre mim recaía, portanto, toda a responsabilidade. E eu sabia que se algo desse errado eu seria muito cobrado. Mas eu não sou de desistir. Quem me conhece sabe que quando assumo alguma responsabilidade não sossego até atingir o objetivo, nem que para isso tenha que mudar várias vezes de estratégia. E era o caso naquele momento.
Na terça-feira nem se cogitou sobre a realização da cirurgia, mas na sexta-feira a informação que chegou era de que finalmente sairia. Todos atentos, aguardamos com ansiedade que o Digo nos ligasse confirmando que o pai havia sido levado para a sala de cirurgia. Por volta de 9 horas da manhã, já no Banco, como não recebesse qualquer retorno, decidi ligar. E mais uma vez tudo se repetiu. O pai havia recebido toda a medicação, as enfermeiras o haviam preparado psicologicamente, os familiares foram informados dos detalhes...e logo em seguida o anúncio de que houvera outro adiamento.
Foi a gota d’água.
Pedi para passar o telefone para o pai.
- Pai! Como você está?
- Estou simplesmente arrasado, filho – respondeu com voz chorosa...
Foi aí que eu fui tomado de um sentimento de indignação tal, que não mais importava ouvir dele que não aceitava ou que não queria... Naquele momento eu decidi que, custasse o que custasse, a cirurgia seria feita em outro hospital, com a participação do Dr. Sílvio, particular.
- Agora chega, pai! – falei mais alto ao telefone – chega de sofrimento! Estou viajando ao meio-dia para Porto Alegre e vamos tirar você amanhã desse hospital. Chega de SUS! Vamos fazer essa cirurgia de qualquer jeito. O Dr. Sílvio já me passou um orçamento e vamos dar um jeito...eu tenho algumas economias e se for preciso consigo dinheiro emprestado com a minha cunhada...mas chega de passar por isso...
Eu esperava ouvir uma negativa, mas pela primeira vez ouvi algo diferente de parte dele:
- Façam o que vocês acharem melhor, filho. Eu não estou agüentando mais essa situação.
Aí deu pra ter uma noção do seu esgotamento físico e psicológico.
Liguei para o Nando, que agora ia tirar férias também, liguei para a Mili, e combinamos de nos encontrar no albergue no dia seguinte. Iríamos até a Santa Casa, assinaríamos o que fosse necessário, e tiraríamos o pai daquele leito.
Liguei então para o Dr. Sílvio e informei da nossa decisão. Pedi que verificasse junto ao seu hospital todos os detalhes e desse um retorno quando possível.
Cerca de uma hora depois ele me ligou:
- Marco, tudo certo. Cirurgia marcada para Segunda-Feira, dia 23, no Moinhos de Vento.
Iria me passar outros detalhes no dia seguinte, quando chegássemos à capital. Definitivo, apenas que o pai deixaria a Santa Casa naquele Sábado. De qualquer maneira. Decisão tomada!
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