terça-feira, 31 de março de 2009

PARTE II

ANGÚSTIA...

Na semana seguinte liguei umas três vezes. Sua voz ao telefone parecia normal e invariavelmente respondia que estava bem quando indagava-lhe a respeito de seu aspecto diferente. "Ando meio nervoso..." ele dizia. Trocamos algumas idéias sobre aquele problema com o vizinho das terras e a impressão era de que não havia mesmo nada de grave com ele. Até fiquei mais tranquilo.
Até aquela manhã.
Por volta das 10 horas me passaram uma ligação. Era a mãe.
- Marco, o pai está no hospital...
- O que houve??? - perguntei aflito, já nem lembrando do que ocorrera há poucos dias.
- Uma dor muito forte nas costas. Não dormiu a noite toda. Tomou calmantes, mas a dor não passa. Acho que é algum problema na coluna.
- Falou com o Dr. Olando?
- Sim, ele quer fazer uma ecografia. Agora ele está bem, está medicado, mas vai ter que ficar no hospital.
Preocupei-me, claro, mas nem me passou pela cabeça que não fosse outro problema senão algum deslocamento nas vértebras, uma hérnia de disco talvez. Lembrei que havia alguns anos tínhamos levado ele ao Hospital Santa Terezinha, de Erexim, para um raio-x da coluna vertebral, onde constatou-se nada mais do que bico-de-papagaio. Além disso, ele costumava cortar lenha a machado, capinar e fazer outros servicinhos assim, que não era de se entregar, o homem...Vai ver era hora de parar. Tinha 63 anos. Quem sabe fosse a hora de não fazer mais esse tipo de atividade física, trocar por caminhadas...
À noite, liguei prá saber notícias. Ele tinha deixado o hospital, estava melhor, mas o doutor lhe havia receitado "Lisador" e feito algumas recomendações. O resultado da ecografia apontava "uma mancha no fígado". Cauteloso, o Dr. Olando preferiu não emitir opinião, limitando-se a dizer que talvez fosse "um derramamento de bílis". Mas recomendava uma consulta com o Dr. Paulo Cavazzola, em Erexim. O Dr. Paulo é painfilhense, filho de seu velho amigo Neri, companheiro de Rotary. E renomado gastroenterologista.
Assim foi feito.
Foi até lá. Consultou. ( Mal sabia ele que essa seria a primeira de dezenas de outras nos próximos anos.)
Naquela noite, liguei novamente prá saber dos exames.
- Como foi lá pai? É coluna mesmo? - indaguei na esperança de ouvir uma resposta positiva.
- Não sei - respondeu - mas o Dr. Paulo pediu uma tomografia...
- Tomografia??? - indaguei com surpresa - mas prá quê uma tomografia???
- É prá ver aquela mancha no fígado. Ele quer ver o que é realmente...
- Mas ele não disse o que você tem? Ele não conseguiu ver pela ecografia e pelos exames de sangue?
- Acho que não. Mas amanhã sai o resultado da tomo. Ele vai ligar prá Jussane.
Comecei a ficar mais preocupado. Tomografia não é um exame que se peça assim por qualquer coisa. Os médicos solicitam esse exame. normalmente, quando existe alguma suspeita de algo mais sério. É um exame caro. Mas confesso que a ficha não havia caído. É como se o cérebro da gente tivesse uma espécie de bloqueio prá não fazer a gente sofrer por antecipação. O fato é que, mesmo sendo assustado por natureza, naquela noite eu não pensei em nada ruim. Havia alimentado a idéia de que não passava de algum probleminha corriqueiro no fígado, que seria facilmente identificado e tratado. Era isso que eu pensava.
Mas...
Dia seguinte. Por volta das 10 horas da manhã. A Jussane me chama no telefone.
- Marco, tu tem como pedir um dia de licença aí no Banco?
- Tenho sim, se precisar, tenho. Mas por que a pergunta?
- Assim, ó - ela respondeu do seu jeito característico - o Dr Paulo me ligou...
- E?...
- Ele quer fazer uma biópsia no fígado do Bernardo...
- Biópsia? Mas essa agora! Por que ele pediria uma biópsia???
- Não sei, mas ficou marcado prá amanhã. E ele vai ter que baixar, porque é um procedimento invasivo e pode dar algum sangramento e...
- Tá bem, já entendi. Amanhã então.
Combinamos a hora, falei com a gerente adjunta, acertei que o levaria para Erexim para fazer o exame.
Baixei o telefone e por alguns instantes fiquei absorto, olhando pela janela, fitando o vazio... Algo me dizia prá conversar com o Dr. Paulo. Era estranho. Primeiro a gente suspeitava de uma dor nas costas, agora o médico pedia uma biópsia. Biópsia? Prá que biópsia? Esses médicos tem cada uma! Fazer a gente ir até Erexim!
Ergui o telefone e disquei o número do Dr. Paulo.
- Dr. Paulo!
- Sim, eu!
- Aqui é o Marco, filho do Bernardo, lembra de mim, né?
- Claro que sim, Marco...
- Pois é, - e fiz a pergunta fatídica - Dr. Paulo, o que é que o pai tem?
- Marco, o teu pai tem um tumor no fígado. Um tumor surpreendentemente grande, de cerca de 8 cm.
Assim! Na lata!
Fiquei mudo. Comecei a suar frio. Foi como se num momento tudo tivesse congelado. Eu não ouvia mais nenhum som ao meu redor. Apenas conseguia acompanhar as palavras do médico, que ainda dava algumas explicações.
- Mas é maligno? é tumor maligno, Dr. Paulo? - perguntei, sempre na esperança de uma negativa.
- Só vamos saber depois da biópsia e da análise dos tecidos do fígado dele. Vamos torcer para que não seja.
Ainda consegui me recompor e voltei a trabalhar. Mas os colegas notaram que meu estado emocional já não era o mesmo. Comentei sobre isso no almoço com a Neu, que percebeu meu nervosismo e tentou me acalmar. Era preciso esperar o resultado da biópsia, talvez não fosse nada mesmo, o pai sempre foi saudável. Me acalmou.
No dia seguinte fomos ao Hospital de Caridade. Feita a biópsia, tudo correu normalmente, sem intercorrências. Ele ficou em repouso e foi liberado à tarde. Retornamos. Agora era esperar o resultado dos exames. E quem já passou por uma espera dessa espécie sabe o que significa. Era uma Sexta-Feira. Teríamos que esperar até a Quarta da semana seguinte. 5 dias. Angustiantes cinco dias...

sábado, 28 de março de 2009

NO NATAL, ELE SE FOI...


PARTE I


TUDO COMEÇOU NAQUELE ANO


O ano de 2005 havia começado muito bem. A Cristina acabara de entrar na faculdade e nos programávamos para ajustar o orçamento. Cortamos algumas despesas fixas, desistimos de algumas assinaturas de revistas, mudei o pacote da SKY para um mais barato, passamos a linha telefônica fixa para um plano "só recebe ligações" com custo mínimo de pouco mais de R$ 30,00. No entanto, de repente percebemos que não seria assim tão difícil. A Neu e eu tínhamos conseguido juntar cerca de R$ 18.000,00 numa caderneta de poupança(ao longo de vários anos), que pretendíamos utilizar justamente no pagamento das mensalidades da UPF. E não estava sendo necessário, para nossa surpresa. As encomendas de doces e salgados estavam aumentando consideravelmente e, embora tendo que nos fazer acordar às 5 da manhã em alguns finais de semana, a atividade da Neu dava mostras de que seria suficiente para pagar boa parte dos gastos com a faculdade da Cris sem mexer nas economias. Em Maio, o meu aniversário caiu num sábado. Havia um tempo que eu precisava de um conserto na lataria do meu golzinho, que havia ficado todo marcado por uma chuva de granizo e decidimos ir até Cacique Doble, numa revenda de automóveis, para avaliar quanto custaria para efetuar os reparos necessários ou em quanto o meu carro seria desvalorizado no caso de uma troca. Acabamos saindo de lá com um Corsa Hatch Joy "0 Km". Estávamos convencidos de que havíamos nos preparado bem para enfrentar as despesas de uma filha na faculdade. Claro que financiamos o carro "a perder de vista", com uma parcela bem compatível. Mas estávamos felizes: filha na faculdade, contas em dia, meu primeiro carro "zero" ... Tudo parecia indicar que seria um dos anos mais felizes de nossa vida.

Ledo engano.

Em Agosto eu veria os primeiros sinais de que algo estava por acontecer. Num almoço em Paim, comecei a perceber que o pai deveria estar com algum problema de saúde. Fazia tempo que ele vinha abusando da bebida e igual tempo que o alertávamos de que isso não acabaria bem. Mas por algum desses mistérios da mente humana a gente sempre acha que nossos pais são imortais e que o dia de perdê-los sempre está longe. E não me passou pela cabeça nada além de que ele pudesse estar mostrando os primeiros sinais de velhice, afinal já contava com 63 anos. E o fato de mostrar agora uma certa apatia, uma coloração mais pálida da pele e uma falta de apetite um pouco anormal nada mais seria do que o stress provocado por um pequeno desentendimento com um vizinho da pequena "chácara" que ele tinha junto com o sócio da farmácia - isso segundo a minha mãe, que jamais admitiria a gravidade de sua situação, como veremos adiante.

Mas foi no dia de Finados de 2005 que veio a certeza.

Chegamos um pouco tarde prá almoçar. O Nando já cuidava do churrasco. Havíamos perdido a tradicional missa no cemitério por chegar depois do horário. Iríamos à tarde rezer um pouco lá.

Perto do meio-dia, como pai não chegava, comecei a me preocupar. Era normal ele se atrasar, porque costumava passar no Clube para tomar o seu aperitivo. Fazia isso há mais de 40 anos. Mas o churrasco estava por ser servido, e nada dele chegar. Várias vezes fui até a rua e olhei para os lados da avenida, mas não o avistei. Eram 11:50h quando peguei o carro e resolvi procurá-lo. Mas foi fácil. Quando passava em frente ao Bar do Davi, olhei para dentro e o avistei. Parei o carro do outro lado da rua e por alguns instantes só fiquei observando. Ele estava sentado num dos banquinhos do balcão de atendimento, cabisbaixo, curvado, imóvel. Olhava fixamente para uma mesa ao lado onde alguns amigos jogavam baralho. Sobre o balcão, o seu copinho de cachaça pura. Foi uma imagem deprimente. Senti algo estranho, como nunca havia sentido. Aquela cena me incomodou. E acho que pela primeira vez eu tive certeza de que havia algo errado, muito errado com a saúde de uma das pessoas que eu mais amava na vida...


(continua)

segunda-feira, 23 de março de 2009

TESTE - DEPOIS VAI SER PRÁ VALER...

Testando minha segunda postagem( após um "baile" prá começar...)

domingo, 22 de março de 2009

VAMOS DINAMIZAR O BLOG?


Deixar o blog apenas com a narrativa que estou fazendo parece torná-lo meio... digamos... enfadonho! Até porque não tenho pressa em terminá-la. O objetivo, como eu coloquei lá no início, é deixar um relato de um drama pessoal que vivi com a perda do meu pai, com quem eu tinha uma fortíssima relação. Um desabafo todo pessoal, na verdade.
Então, decidi por começar desde já a trazer para o blog os conteúdos que eu imaginei quando defini os objetivos que estão postados aí encima.
Vou continuar a narrativa, mas vou dinamizar um pouco mais a página, trazendo pequenos relatos, fotos, historinhas, coisas da minha infância, coisas de família...
Meu blog agora vai ficar...comum. Como outros tantos que perambulam aí pela net.
Mas creio que ficará mais agradável para quem acessar.