sábado, 9 de julho de 2011

NO NATAL, ELE SE FOI...

PARTE   LVI
                                         
              O pai, numa tarde qualquer de 1974, em Paim Filho (foto antiga)



O RETORNO... E A ÚLTIMA INTERNAÇÃO


                             Desta vez eles não ficaram muito em Bento.  O pai praticamente ficara dentro do apartamento durante todo o tempo. Fraco, a única coisa que podia fazer era permanecer sentado no sofá da sala acompanhando a mãe diante da TV.  Mesmo que a família da Mili tentasse distraí-lo, não devia ser fácil para ele encontrar prazer em qualquer divertimento. Bastava-lhe, por certo, estar próximo deles.  Foram tiradas algumas fotos e até nelas era possível perceber um estado de ânimo abalado, embora ele procurasse dissimular, sempre dizendo estar bem.
                                 Na volta, nova internação.
                              Ele não se sentia bem. Reclamava de incômodo no abdômen. Referia uma sensação de estômago cheio, de digestão difícil, de estar permanentemente meio enjoado. Marcamos nova visita ao Dr. Paulo, mesmo que se tivessem passado pouco mais de 45 dias.
                                 A nova tomografia mostrou que os nódulos permaneciam ativos e em crescimento. A alcoolização não fazia mais efeito. As células cancerígenas agora multiplicavam-se numa velocidade muito maior, como se quisessem nos dizer “agora chega, acabou a brincadeira...”. Mesmo assim, novo procedimento foi realizado, não tinha como ser diferente. E além da alcoolização, foi necessário tratar das varizes esofágicas, efeito colateral sério da insuficiência hepática. A sensação de “peso no estômago” que ele sentia nada mais era do que uma pequena e constante hemorragia, gerada pelo rompimento de pequenos vasos no seu esôfago .  Muito preocupante.  Foi necessária agora uma internação de quatro dias. A mãe ficou com ele todo o tempo, de novo, em que pese as precárias condições de acomodação para os acompanhantes no Hospital de Caridade. Fui buscá-los no Sábado, dia 20 de Dezembro. Pela primeira vez, ao receber a sua alta, não senti nenhuma firmeza. Ele não parecia bem. Estava alegre por poder sair do hospital depois de quatro dias, mas exibia uma fisionomia cansada, uma fala arrastada e um estado de ânimo muito diferente de todas as internações anteriores.
                         Antes de deixar o complexo do hospital, o Dr. Paulo quis conversar reservadamente comigo. Disse ter sido necessário um procedimento mais efetivo de “estrangulamento” das varizes esofágicas. Algumas delas estavam muito proeminentes e a ponto de romperem-se a qualquer momento. Fez o que era possível, mas comentou: “estou muito preocupado com as varizes. Fiz o que podia através da endoscopia digestiva e consegui estancar a pequena hemorragia que ele tinha, mas constatei outras bem maiores. Além disso, não sei o que houve, mas os nódulos simplesmente explodiram. O fígado dele já não dá conta de se recuperar e o câncer avançou muito nos últimos dois meses. Acompanhem e qualquer coisa me liguem.”
                        Viajamos de volta a Paim Filho. Foi a derradeira etapa do seu tratamento.