sábado, 14 de novembro de 2009

NO NATAL, ELE SE FOI...

PARTE XXV

PRIMEIRO DIA NO HCPA...


De qualquer forma, estávamos todos mais tranqüilos com a transferência do pai para o Hospital de Clínicas, já que isso estancava aquela “sangria financeira” que começava a ocorrer no Moinhos de Vento. Quase R$ 30.000,00 em 5 dias. Não sei o que teria sido de nós se eu não houvesse obtido sucesso naquela verdadeira odisséia do dia anterior. Sabe-se lá onde poderia bater essa cifra. Seria impagável, com certeza. Nos momentos de maior desespero eu ficava imaginando a gente vendendo a casa, a farmácia do pai, a minha casa... Mas a obstinação valeu a pena. Agora poderíamos acompanhar melhor a esperada recuperação dele, com esse único foco, sem aquela tensão nervosa que nos acompanhava antes.
Como pagar a despesa no outro hospital seria mais um desafio. Foi preciso juntar todas as economias que eu tinha e que estavam reservadas para a faculdade da Cris, mais todo o adiantamento de minhas férias que começariam no início de Fevereiro e ainda obter um empréstimo com a minha cunhada Neli, de mais de R$ 12.000,00. E ainda havia o pagamento dos médicos, que eu nem sabia quanto iriam cobrar. Daria um jeito. Naquela manhã de Sábado o que eu mais queria era ir até o Hospital de Clínicas, subir até o 13° andar e encontrar o pai mais acordado, pra poder bater um papo com ele. E assim foi. Chegamos todos ao HC e aguardamos pacientemente a autorização para visitarmos a CTI, revezando-nos de acordo com as normas do hospital.
Quando chegou minha vez, estava ansioso. Lembro que entrei apressado naquela ala e de cara já pude observar que o pai estava acordado, embora um pouco sonolento. Ainda não foi possível conversar muito com ele. Perguntei como estava, se sentia dor, se lembrava de algo da cirurgia. Ao mesmo tempo, corria o olho pelos aparelhos, tentando entender um pouco de seu estado, das perspectivas de recuperação. A monitoração cardíaca apontava uma freqüência de mais de 115 batidas por minuto, mas já menos do que nos dias anteriores, em que passava de 130. Dos dois lados da cama, havia recipientes com líquidos que saiam de cateteres enfiados em seu corpo. Uma sonda atravessava seu nariz e descia até o estômago, por onde era alimentado com preparados especiais. Era um paciente de UTI, tentando se recuperar. Fiquei alguns minutos e saí, não sem antes dar-lhe um beijo na testa, para deixar que a mãe e meus irmãos também pudessem visitá-lo. Ele parecia tranqüilo, não se queixava de nada. Notava-se que ainda estava um pouco confuso e não lembrava de quase nada do que acontecera a partir da cirurgia.
À noite, viajei de volta para São José do Ouro. Havia ficado a semana toda fora. A Neu e as meninas ansiavam por notícias e queriam que eu voltasse pra ficar o final de semana com elas. Na segunda-feira começavam as minhas férias e já estava decidido: naquele ano ninguém viajaria. Primeiro, porque não haveria dinheiro para viajar e, segundo, porque eu dedicaria minhas férias ao pai, ficando em Porto Alegre. A família concordou de pronto. Todos entendiam muito bem aquele momento.